
A atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1) entrará em vigor em 26 de maio de 2025. Foto/Divulgação
Nos últimos anos, a saúde mental no ambiente de trabalho se tornou uma prioridade crescente. Em 2024, o Brasil registrou um aumento de 67% nos afastamentos por transtornos mentais e comportamentais, totalizando mais de 400 mil casos, conforme dados do Ministério da Previdência Social. Esse cenário evidencia a urgência de se adaptar e dar atenção à saúde mental no ambiente corporativo, especialmente diante das mudanças que surgem com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que entrará em vigor em 26 de maio de 2025.
A principal alteração é a inclusão dos riscos psicossociais no gerenciamento de riscos ocupacionais (GRO). Isso significa que as empresas precisarão identificar, monitorar e gerenciar os riscos que afetam diretamente a saúde mental dos trabalhadores, como o estresse, o assédio moral, a sobrecarga de tarefas e a falta de equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. De acordo com o especialista em gestão de pessoas e sócio da Ação Consultoria, Henrique Gomes, as transformações no perfil do trabalho têm impactado diretamente a saúde mental dos colaboradores.
“O mercado de trabalho passou por transformações profundas, exigindo não apenas resistência física, mas também um alto nível de esforço cognitivo e emocional. A saúde mental tornou-se um fator determinante para a produtividade e o bem-estar organizacional”, explica Gomes.
Hoje, o trabalho é mais dinâmico e repleto de tomadas de decisões rápidas, o que, somado ao uso constante de ferramentas digitais, impõe uma carga mental muito maior do que as gerações anteriores enfrentavam. O impacto de problemas como ansiedade, depressão e burnout afeta diretamente a produtividade e o desempenho organizacional. Nas MPEs, a falta de recursos financeiros e de pessoal especializado torna a implementação de programas de bem-estar mais difícil, mas não deve ser vista como um obstáculo, e sim como uma oportunidade de transformação, afirma Henrique Gomes.
Além disso, as empresas precisarão adotar medidas preventivas, como a criação de programas de apoio psicológico, a capacitação de líderes e colaboradores e a oferta de treinamentos focados na saúde mental. A participação ativa dos colaboradores na identificação e gestão dos riscos psicossociais será crucial para o sucesso dessas novas diretrizes.
A psicóloga Thirza Reis destaca a importância de uma mudança cultural nas organizações para que a implementação da nova legislação seja eficaz. “O principal desafio é a mentalidade empresarial ainda enraizada no silenciamento e no excesso de esforço. A nova legislação exige uma reavaliação profunda, especialmente nas lideranças, para que a saúde mental seja vista como parte integral da cultura organizacional”, afirma Thirza.
Ela também destaca que a nova legislação representa um avanço importante. “Tira a saúde mental do campo do ‘benefício opcional’ e a coloca no centro da responsabilidade corporativa”, afirma. “Isso é uma virada de chave. Quando a lei exige que as empresas olhem com seriedade para o estresse e a ansiedade no ambiente de trabalho, ela está dizendo, com todas as letras, que o sofrimento psíquico não pode mais ser invisível ou tratado como fraqueza individual. Ela é uma questão sistêmica e social e precisa ser cuidada.”
Thirza acredita que a criação de espaços onde os colaboradores possam expressar o que sentem, sem medo de julgamento, é essencial para que qualquer apoio psicológico seja efetivo. Ela acredita que o impacto mais poderoso da nova lei pode estar justamente em “abrir espaço para conversas mais honestas, relações mais humanas e práticas mais preventivas”.
Com as modificações da NR-1, as empresas deverão repensar suas políticas de saúde mental e adotar medidas práticas, como a identificação e mitigação dos riscos psicossociais, o desenvolvimento de programas de apoio aos colaboradores e a criação de canais seguros de denúncia. A adaptação a essas mudanças não só garante a conformidade com a legislação, mas também cria um ambiente mais saudável e produtivo para todos.